quinta-feira, 9 de outubro de 2008

  • Casamento Marroquino- A Novela

    So de ouvir falar em festas aqui eu tenho calafrios até a alma. Trauma total. Especialmente casamentos. Destes, eu fujo desesperadamente. Se você vem para Tanger, esqueça os casamentos com orquestra, boa musica, baile, conversa animada, bebida e comida à vontade. Se alguém te convidar, pense duas vezes. Ou melhor, dez vezes. Pensando bem, nao pense. Simplesmente nao và. Mas, se como eu, você for curioso, e defender aquele blà blà de que é interessante conhecer outras culturas, coisas exoticas e diferentes, pode ir. Mas nao diga que eu nao avisei…

    Antes que você se pergunte o que pode haver de tao errado com uma cerimonia de casamento, quero dizer que nunca vou conseguir transmitir por escrito o bolo no estômago de ansiedade que eu sinto querendo que aquela noite acabe. Isso se eu tiver sorte da cerimonia em questao ser moderna e comemorada em uma noite so. Porque casamento aqui muitas vezes levam três noites recheadas de infinitos rituais tradicionais. Isso no Brasil jà deu tempo de casar, separar, arrumar outro e casar de novo.

    Quando hà rumores de um casamento no ar, a mulherada jà se assanha toda e se enfia nos souks de tecido pra barganhar um par de metros da ultima novidade. Depois, é a procura por costureiro. A roupa de casamento é especial e se chama caftan.

    CAFTAN

    Ah, o caftan. Pense num saco de dormir com mangas enormes confeccionado em tecido de estofamento. Entra dentro disso e arremata com um cinto duro e apertado de uns quinze centimetros de largura. Agora tenta respirar. Dificil. Isso é um Caftan.

    O ultimo casamento que fui, aceitei, sabendo que ia me arrepender, a vestir a tal roupinha para agradar a minha sogra que certamente ficaria vexada se eu aparecesse na festa de terninho risca de giz. Entao chega ela na minha casa com um saco enorme,daqueles de lixo preto, cheio dos modelitos. Normalmente nao se repete duas vezes a mesma roupa, mas, como eu nao ia gastar um centavo para mandar fazer um, estava pouco ligando. Experimentei uma meia duzia -em nao menos que uma hora- e optei por um marrom menos espalhafatoso, que me apresentava menos risco de parecer a poltrona da vovo. A saia cobria meus pés e continuava mais vinte centimetros no chao. Mesmo com salto. « Nem pensar em atravessar o salao com este troço, fugir, impossivel !», pensei. As mangas de dois palmos de largura e maiores que meus braços de uns bons dez centimetros jà me davam uma ideia da dificuldade que seria comer o tagine-um ensopado cheio de molho para comer com pao- com aquelas mangas-cortinas mergulhando dentro do tal molho.
    Ok, sem comer, sem respirar, sem poder andar e ouvindo aquelas batucadas num volume explosivo… a partir dai esperava com horror o dia D.

    Aguardem a continuaçao…

Um comentário:

Aladdin Shawarma Express disse...

Olá Letícia... adorei seu blog.
Parabéns pela riqueza dos detalhes, palavras certas na medida certa... parabéns. Adorei!