terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tenho sempre uma lista gigantesca de coisas para fazer quando eu tiver tempo. Parte da minha ansiedade consiste em esperar esta oportunidade chegar. Hoje porém, o tão esperado tempo vago colocou-se diante de mim, sorriu, e eu fiquei tal qual uma idiota paralisada, contemplando-o. Como que com medo de tocá-lo. Iria estragá-lo. Não seria mais vago, não seria mais livre. Estaria usando-o para me prender a afazeres que pareceram, de repente, tão menos importantes que a admiração daquele vão de tempo en que me encontrava. Mas logo me entristeci. Porque ele começou a se mexer, eu me assustei, de repente me vi correndo atrás daquele vão que já não existia mais. Que frustração não poder entrar no tempo, como num vagão, enquanto tudo do lado de fora corre e dentro nada se mexe, se eu não quiser em nada mexer. Ficar na janela, observando a sucessão de segundos, de minutos, de horas, do tempo que eu precisar dentro do meu vagão do não-tempo...mas ele corria e me deixava para trás. E eu não queria, não queria que ele me deixasse. Mas ele continuava, inabalável, sua marcha regular e solene, completamente indiferente à minha angústia. Passei o dia correndo dentro de mim mesma, cada vez mais rápido, e quanto mais acelerava, mais me distanciava daquela breve ilusão de imobilidade temporal. De nada adiantou, perdi meu tempo de vista. Deitei-me, frustrada. Amanhã, mais um dia como os outros, sem a sorte ou o azar de ter o tempo sorrindo diante de mim. Igual a todos os outros. Sem controle, sem conseguir coordenar esse acessório mentiroso que é o relógio com os deveres, muito menos com os prazeres. O sorriso do tempo é traiçoeiro. Ele aparece, lindamente sorri e vai embora. E eu fico correndo, às cegas, sem saber de onde ou para onde. Sabendo que ele me tem e eu nunca o terei.

2 comentários:

Fulano disse...

A beautiful text...De parabens.

Leticia Hasselmann disse...

Obrigada Fulano...