quarta-feira, 25 de abril de 2012

Não é o tipo de postagem que costumo fazer, mas isso é bem o que acredito e tenho aplicado recentemente na minha vida:




"Às vezes, o nosso pensamento é rígido, ou agimos em automático, agimos à nossa maneira, ou acontecem coisas que mudam a nossa rotina ou horários e deixa-nos desconfortável, como um peixe fora de água, ou estamos constantemente a sobreanalizar as coisas.



Quando você está sendo inflexível para algo diferente do que conhece ou está acostumado, você pode sentir-se ameaçado, com medo, frustrado, e às vezes irritado. Mas esses pensamentos e sentimentos negativos exercem uma função extremamente importante, forçam-no a pensar em formas alternativas de abordar as questões ou situações incômodas.



Muitas vezes enganamo-nos por acreditarmos que o nosso caminho é o caminho melhor, ou o único caminho que existe.



...



Trata-se de dar e receber, comprometendo, vendo as coisas de maneira diferente, tentando novos caminhos, olhar as coisas de uma perspectiva diferente, e movendo-se do estilo de pensamento problemático para o estilo de pensamento de possibilidade. Ser flexível nem sempre significa ter que ceder, mudar suas maneiras ou dizer sempre sim. O que isto significa é que em primeiro lugar você está olhando para as coisas por uma perspectiva diferente, e depois faz uma escolha do que é melhor, esta é a flexibilidade de pensamento na pratica.



Quando somos tomados pelo impulso dos sentimentos, por vezes é difícil ver as coisas claramente e, portanto, você provavelmente reage e/ou exagera ao invés de olhar a situação e responder de forma eficaz. Este é um momento para deixar a rigidez do seu pensamento e modo de fazer as coisas tornando-se mais flexível e libertador. Ganhando clareza, você irá ver e entender as coisas de uma maneira diferente, abrindo espaço para a adaptabilidade e adequação."




Mudar é sempre possível e bem vindo, se for para melhor... Não é fácil, mas é possível. Para que personalidade rígidas ou tão certas de si, a ponto de não considerarem que mudar de pontos de vistas pode ser uma evolução?

Afinal, se podemos ser pessoas melhores, pra que sermos nós mesmos?









quarta-feira, 21 de março de 2012

Estão todos convidados para a inauguração da Exposição Caneta, Lente & Pincel, dia 11 de abril (quarta-feira) no Centro Cultural Justiça Federal, às 19 horas!!! Cinelândia, centro do Rio.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Semanas de manhãs tristes, tardes longas e noites de criatividade promissora podadas pela exaustão...
limbo entre os finais de semana.
Um lado do muro

Foi só até onde cheguei

Achei seguro o abrigo

Parei, encostei, descansei.



Acampei, fiz vida e a desfiz

Amei, odiei, me entediei

Viajante chegou perto de mim

Ignorando meu muro, o pulou.


"Como assim? Você o pula?"

"Sempre pulei."

"Eu não ouso."

"Não precisa."



Não preciso, eu sei.

Mas não te alcanço bem do chão.

Vejo que perco o medo de altura

Minhas mãos dadas com as suas.



Homem, não te quero viajante.

Vou segurar tua mão

E conhecer o teu mundo.

Você também não estava à procura?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Tendo que decidir se mato ou não uma parte de mim da qual sempre tive tanto orgulho...medo de não conseguir...medo maior de conseguir...ainda não sei lidar com isso. Morrendo de angústia.

sexta-feira, 29 de julho de 2011


Fenda e Fuga


Quando envolta em um ambiente, a perspectiva perdia a lógica. Estranho esse universo que descobrira e tinha hora pra começar. De 8h às 18h, os ângulos eram retos e o mundo era plano. Saía então do trabalho, pegava o ônibus e, na metade do caminho, o asfalto das ruas dava sinais de vida. Ligeiros tremores que não eram sentidos pelos outros passageiros. Era uma sensação exclusiva e indicava a passagem entre mundos.

Uma montanha russa a empurrava aos trancos até sua casa. A partir das 19h de cada dia, sua porta a surpreendia com novas arquiteturas, móveis estranhos de estilos mutantes. Talvez um dia iria se acostumar a chegar cada noite num novo quarto, onde jogaria suas sapatilhas surradas em qualquer canto, deitaria numa nova cama e sentiria-se em casa. Enquanto em período de transição, seus pontos de apoio eram os pontos de fuga.

Chegou. Seu lar de hoje, um cenário seco. Sem cama, sem sofá, sem as muitas almofadas que cobririam o chão de sua sala se sua vida acontecesse dentro do tempo. Mas, fora dele,a realidade era outra. Das 8h às 18, era mais uma bailarina incansável de uma homogênea coreografia universal. Quando só, bailarina de uma caixinha de música vazia, girando em torno de si própria, sem tesouros sob a ponta de seus pés.

Sentou-se diante de um objeto que pendia do teto. Elegeu-o como seu apoio, sua fuga. Ficaria ali, ausente, buscando caminhos. Concentrou-se na fenda talhada em seu centro: vermelha. Vermelha e pulsava. Sentou-se mais perto. Seu coração em descompasso, numa tentativa de sincronizar as batidas com a pulsação ritmada do orifício. Sugado pelo ritmo, seu corpo aproximava-se. E o coração batia, e o ar faltava, e o corpo não obedecia, e o orifício a sugava. Cabeça, ombros, seios, tórax, ventre, quadris, pernas. Seus membros esmagados, aspirados e perdeu consciência.

Um segundo do mais absoluto nada, bolha de vácuo entre o tempo e o espaço. Um segundo em que não integrava nenhuma coreografia, ou mundo, ou tempo, ou ambiente. Era o segundo em que tinha paz.

E foi expelida com violência para a luz. 8h da manhã e sentia dor. Dor de recomeço.



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Relacionamentos modernos não são pra mim. Não sei lidar com eles e nem gosto. Quando vejo que o negocio não vai sair do passatempo, caio fora. Quero pessoas com potencial de serem "a pessoa". Assumo minha caretice.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vou à Pala
Ouvir o Mainà:
Atenção, atenção!
Aqui e agora!
Cantar, cantar

Vou à Pala
Beber moksha
Escalar os montes
Orar em transe
Em Shivapurang

Vou à Pala
Tornar-me sábio
Almoçar insanidades
Mastigando mentiras
Até cuspir verdades

Vou à Pala
Aprender ioga Tantra
Entoar os novos mantras
Shanti Shanti Shanti
Com asas rosa e branco

Vou à Pala
Peter Pans e Homens- Músculo
Beneficiários e vítimas
De todos os seus cultos
Em tantos dons ocultos

Vou à Pala
A Ilha Proibida
Eterno estrangeiro
Aqui ou no mundo inteiro
É só uma ilha perdida

Vou à Pala
Vou viajar
Em sois e luas
Viajar
Talvez não volte
Nunca mais...
Talvez nem vá.









Eu te vi passar na rua


Pensei em não te chamar

Você me pareceu diferente

Não anda mais como andava

Não olha mais como olhava

Não reconheci sua roupa

Você me pareceu tão distante

No meio de todos na rua

Eu te enxergava tão longe

Será que fui eu que mudei?

Será que você me vê assim também?

Acho que te amei

Agora já nem sei...

Pensei em te chamar

Você me pareceu tão ausente

Não fala mais como falava

Não beija mais como beijava

Não reconheci sua boca

Indiferente

Iguais a todos da rua

domingo, 1 de maio de 2011

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fiquei muito feliz de ter sido convidada a participar do blog Caneta, Lente, Pincel com uma tela. Mais feliz ainda depois de ler o texto de Tadeu Marcon que acompanha a imagem.
Segue o link:
http://canetalentepincel.blogspot.com/2010/12/atroz-luz-e-sombra.html#comments

sábado, 18 de dezembro de 2010

É tanta coisa que acontece, é tanta coisa que se sente, é tanto, tanto de tudo ao mesmo tempo,  e esse tanto tudo na verdade é um grande nada. É muita coisa tentando furiosamente ocupar um espaço que já está cheio de vazio. Tudo enche, nada preenche.

Nossa, como cansa.

domingo, 28 de novembro de 2010




Loucura à primeira vista

Já que não sei o que fazer com o que sinto

Sento e espero o encanto passar.



( e aquele sentimento que era passageiro não acaba mais )


 
Exausta...

De só sentir

De sentir só.

sábado, 20 de novembro de 2010

Violentamente encantada. Azar o meu, nem posso fazer nada.
Ou posso?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010



Imagem que levei e texto que não levei......






Eu vivo assim

Sob o peso do juízo do mundo,

Olhar dormente...

Perdendo a vida em lances de dados,

Eu, dado a vícios, pressinto o fim.

Ninguém nem sente, eu longe assim...

Queda dos sentidos

Caí...

Da altura das palavras

Que ousava definir

Calem-se todos: abismo em mim!

Última dose...

Estrelas caem, cores se esvaem,

Um ano a menos, um gole a mais...

Empalideço em cinzas

Eu morro assim.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Será que eu conseguiria voltar no tempo assim, tipo...50h atrás?
Tenho sempre uma lista gigantesca de coisas para fazer quando eu tiver tempo. Parte da minha ansiedade consiste em esperar esta oportunidade chegar. Hoje porém, o tão esperado tempo vago colocou-se diante de mim, sorriu, e eu fiquei tal qual uma idiota paralisada, contemplando-o. Como que com medo de tocá-lo. Iria estragá-lo. Não seria mais vago, não seria mais livre. Estaria usando-o para me prender a afazeres que pareceram, de repente, tão menos importantes que a admiração daquele vão de tempo en que me encontrava. Mas logo me entristeci. Porque ele começou a se mexer, eu me assustei, de repente me vi correndo atrás daquele vão que já não existia mais. Que frustração não poder entrar no tempo, como num vagão, enquanto tudo do lado de fora corre e dentro nada se mexe, se eu não quiser em nada mexer. Ficar na janela, observando a sucessão de segundos, de minutos, de horas, do tempo que eu precisar dentro do meu vagão do não-tempo...mas ele corria e me deixava para trás. E eu não queria, não queria que ele me deixasse. Mas ele continuava, inabalável, sua marcha regular e solene, completamente indiferente à minha angústia. Passei o dia correndo dentro de mim mesma, cada vez mais rápido, e quanto mais acelerava, mais me distanciava daquela breve ilusão de imobilidade temporal. De nada adiantou, perdi meu tempo de vista. Deitei-me, frustrada. Amanhã, mais um dia como os outros, sem a sorte ou o azar de ter o tempo sorrindo diante de mim. Igual a todos os outros. Sem controle, sem conseguir coordenar esse acessório mentiroso que é o relógio com os deveres, muito menos com os prazeres. O sorriso do tempo é traiçoeiro. Ele aparece, lindamente sorri e vai embora. E eu fico correndo, às cegas, sem saber de onde ou para onde. Sabendo que ele me tem e eu nunca o terei.

domingo, 10 de outubro de 2010

você-interrogação-exclamação-reticências....subentendido-o não dito-atração-reação-química-explosão-guerra-tanque-era un garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones-Imagine-imaginação-criatividade-papel em branco-caneta ou pincel?-tinta-batom-lábios-pele-pêlo-claro, o cabelo-nuca-arrepio-sensação-morango-chocolate-caloria-calor-vapor-areia-deserto-solidão-timidez-invisível-eu

segunda-feira, 4 de outubro de 2010



Pronto, postei. Tela que levei para o Caneta, Lente, Pincel.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Tem domingos que acho aquela alegria dos casais brincando com os filhos no parque do Campo de São Bento a coisa mais inspiradora do mundo. Ontem foi a visão mais deprimente do meu dia.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hora de ficar sozinha. Chega.
Em uma fração de segundos, minhas mãos adquiriram vontade própria e plantaram-se em volta do pescoço daquela criatura desprezível. Tentava com elas, medir o quão real era a visão da presença aterradora que vinha me acompanhando nos últimos dias.



A primeira vez que a criatura se manifestou, fora há uma semana. Tinha acabado de chegar em casa do trabalho. Estava irritado, cansado e com fome. Abri a geladeira para engolir o que primeiro se apresentasse à minha frente. Reconheci um prato de comida mal terminado da janta de duas noites atrás. Ou três. Há tempos trabalhava num ritmo tão intenso e andava tão alucinado, que sequer conseguia parar para pensar no estado do lugar em que vivia.



Minha noção de tempo vinha-se distorcendo. Ora passava rápido, ora o tempo parava e eu sentia-me travado enquanto as outras pessoas desfilavam à minha frente, lentamente, como se eu não pertencesse àquele mesmo ambiente.



Voltei o olhar para o prato que havia largado na geladeira por não ter coragem de despejá-lo na lata de lixo, mesmo achando que o faria no dia seguinte. A comida começava a exalar odores azedos, no entanto, estava tão exausto e tão menos preocupado em satisfazer meu paladar e olfato do que a urgência da minha fome. Nessas condições, o conceito de comestível parecia a coisa mais sem importância a ser questionada no momento.



Bati a porta da geladeira e ensaiei meia-volta em direção à mesa. E lá estava ela, pela primeira vez. A um palmo dos meus olhos, a visão de um rosto pálido, frio, cadavérico, flutuando no ar, com olhos faiscantes do que só poderia ser traduzido em ódio ou fúria. Demoníacos. Foi tão rápido que quase duvidei de tê-la realmente percebido. Pisquei, tremi. Olhei para o prato em minha mão e, imobilizado, assistia a comida apodrecida deslizar para o chão em câmera lenta. Um pedaço de bife mal cortado, coberto de arroz, descrevia vagarosas piruetas no trajeto em espiral que terminaria na ponta do meu sapato. O choque atirou estilhaços do arroz empapado para todas as direções, como fogos de artifícios que se espalham depois do estouro. Como uma granada, atingira uma fila de formigas recém instaladas em minha cozinha. Imaginei uma delas sendo imortalizada numa fotografia preto e branco com a mesma expressão de terror da menina do Vietnã. Indo mais longe, consegui divertir-me com a idéia do mundo sendo colonizado por formigas. Quando esbocei o instinto de rir loucamente desses segundos de devaneio ridículo, lembrei-me da visão do rosto. O mundo voltou a girar freneticamente. Falta de ar. Teria sido real? Aquela face azulada, acinzentada, com olhos de fogo, teria realmente se colocado frente a mim? E por quê? Respirava rapidamente, tomado pela ansiedade. Corri em direção ao meu esconderijo de pílulas e enfiei um punhado da minha última aquisição garganta abaixo. Adormeci, quase instantaneamente.



Comecei a suar. A cama, encharcada, gelada, cheirando à amônia. O rosto aterrorizador tentava me sufocar. Agitado, rolando para todos os lados, sentia o estômago revirar. Como se acordasse de um pesadelo, sentei-me na cama em um movimento brusco. Abri os olhos: ela ainda estava lá! A criatura, ainda a enxergava, embora não a sentisse fisicamente. Desesperado, buscava ar. Com pouca força nas pernas, desci as escadas tropeçando, segurando no corrimão para não cair. Continuava sendo seguido. Cheguei na cozinha, ofegante. O rosto aumentava e diminuía de tamanho, mudando freneticamente de lugar, ora direita, ora esquerda, cada vez mais rápido. “Preciso me salvar”, pensava. De repente, a visão não era mais somente uma visão, comecei a sentir sua presença, sua respiração, sua concretude. Senti uma pressão brutal em meu pescoço. Em uma fração de segundos, minhas mãos adquiriram vontade própria e plantaram-se em volta do seu pescoço. Sim, era real. Flashback imediato das cenas que havia protagonizado na semana anterior. Um colega de trabalho, um idiota ambicioso que certamente teria tentado me sabotar. Seu pescoço era forte, rígido, tive que usar mais força do que esperava. A faxineira assistia ao episódio com horror. Simpatizava com ela, apesar de ser um tanto arredia. Ela não deveria estar ali. Seu pescoço era grande, porém macio, quase flácido. Sentia um cheiro enjoativo perto dela, talvez fosse o excesso de creme nos cabelos, lembro-me com nojo de meus dedos deslizando em sua nuca ensebada. Não precisei de muito esforço, embora meus braços já estivessem doloridos, não tanto pela força utilizada, mas pela tensão.



Porém agora, jogado no piso frio da cozinha, nocauteado, o tempo voltava ao seu ritmo vagaroso. Os olhos de fogo não paravam de crescer. A pressão em meu pescoço era maior e mais forte do que a que eu tentava exercer. Larguei meus braços. Lembrei-me então de Joana, caramba, havia-me esquecido dela naquela noite confusa. Precisava telefonar e dar uma explicação. Estava, pela primeira vez, apaixonado. Talvez a convidasse para um jantar especial ou uma viagem no final de semana. O anel, já o havia comprado, necessitava apenas criar a ocasião. Estava decidido a fazer a proposta, aquela que nunca pensara que faria na vida. O telefone tocou. Poderia ser ela. Olhei para a criatura: “eu preciso atender!” Ela sorriu, maliciosamente, como se saboreasse um grande prazer. E desapareceu.



O telefone insistia. Quis levantar, mas parou de tocar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Voltando ao assunto do meu português pós-árabe e francês...voltei de lá enfiando crase onde não tem.  Ódio.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mudança. Mudanças. Bagunça externa. Bagunça interna. Ilhada. Medo da passarela do JB. Vou chorar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

preciso revisar meu português...também, depois de dez anos pouco usando a língua, num país onde a escrita é da direita pra esquerda, sem acentos, onde os verbos "ser" e "estar" não existem...

"-Que a paz contigo.
-Que contigo a paz.
-Quem voce?
- Eu Leticia. E voce?
- Eu fulano. "

Desaprendi tudo. Mas acho que vou desenvolver este assunto...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Magnetizado pela iris

Confusão de cianos e cinzas

Variações em torno de azuis

Aquarelados, umedecidos

Eu, pálido exterior

Gélido, ausente em meu corpo,

Quase morto, incolor,

Sua mão de leve em meu braço

Faz despertar...

Te enquadro no olhar

Te analiso e desejo

Quente, presente

Em laranja, magenta

e o vermelho...

sangue!

Fervendo nas veias.

Cheiros, sabores

Sentidos pulsantes,

Eu, ofegante, ardente, crescente

E de repente...

Teus olhos desviam e se perdem em outros

Nem frios, nem quentes

Castanhos? Não lembro...

Talvez faíscas de verde

Tons seguros, estáveis,

Que já te pertencem

Eu, quem sou eu?

Mais um tom que compõe o ambiente

De presença e ausência indiferentes

Recolho-me e murcho

Aos poucos perdendo a cor

Como um livro entre outros

Que se pega, cataloga

Arquiva e se esquece na estante.
madrugada insone, mil vontades na cabeça
frio na barriga
banho de água fria
arquivar
ou investigar?

domingo, 22 de agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


É...bonitinho...final de tarde da janela do trabalho.
(fotos roubadas da minha colega Shirley, já que as minhas não querem sair do meu celular)
Estará meu nome eternamente "googlado" à um chat dos enghaw que participei há um século atrás???Como tiro isso???

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Devo realmente estar com cara de quem está precisando de whisky...
Saudades de pintar e desenhar... pensando seriamente em retomar...pelo menos para parar com essa sensação de tempo perdido..
Dando meu braço a torcer a mim mesma...na segunda visita à exposição de Rebecca Horn, tudo pareceu completamente diferente...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

« POU ». Estouro de um tiro. Susto profundo.

Examino instintivamente o ambiente desconhecido:

Uma sala vazia. Duas armas. Uma mulher indiferente recostada em uma cadeira no canto da sala.

Analiso melhor, vejo que uma arma está apontada em direção à outra. Qual será que atirou? A da direita? A da esquerda? As duas ao mesmo tempo num perfeito uníssono? O que teria acontecido com as balas ao se chocarem em cheio no ar? Será que realmente se chocariam, será que a posição delas estava realmente milimetricamente calculada, ou era apenas uma sugestão? Não importa, não era um tiro. Era apenas um artifício sonoro de uma artista alemã, ou muito perturbada, ou muito genial - chamada Rebecca Horn.

No segundo seguinte à descoberta do falso tiro, senti raiva. Brincadeira estúpida. Em pleno Rio de Janeiro, adentrar um ambiente desconhecido e ser surpreendido pelo familiar estampido é no mínimo de muito mau-gosto. Talvez em Tanger tivessem achado engraçado. Talvez o visitante tangerino demorasse mais de dois minutos para associar o barulho ao objeto, já que lá, arma é coisa de filme e a idéia de ação policial deve corresponder no máximo a Matt Damon se jogando da moto em frente ao Café de Paris para fugir em direção à antiga Medina numa cena de “Ultimato Bourne”, que parou a cidade inteira para ser gravada. E as jovenzinhas que passavam e olhavam um baixinho correndo freneticamente nem sabiam que era Matt Damon. E pouca diferença lhes faria se soubessem.

Na verdade,o tangerino não corre o risco desse susto porque, na atual Tanger, nem se fala mais em arte como nos velhos tempos de território internacional. Kandinsky, Paul Bowles e intelectuais ou artistas da geração beat ficaram no passado e não deixaram rastro. O cidadão de hoje não visita espaços culturais, que já são quase inexistentes. Instalação para eles é tarefa de encanador diante de uma máquina de lavar "Samsong" comprada sem garantia na Casabarata.

Voltando ao presente, na sala da pegadinha sem graça em pleno CCBB no centro do Rio de Janeiro. Depois da raiva, me recompus. Evitei encarar a funcionária sentada na cadeira. Minha primeira idéia foi pensar que ela estaria rindo de mim, “mais um idiota que caiu”. Meu segundo pensamento foi de curiosidade e de empatia, quase pena. Aquela moça deveria estar sentada ali há tanto tempo e talvez já fizesse isso há tantos dias, que o tiro deveria entrar por um ouvido e sair pelo outro. Ela ignorava totalmente minha presença. Eu não era mais um idiota, eu era apenas mais um.

Será que essa moça fica todo dia mesma sala? Seria tortura. Não, eles devem fazer um rodízio... Um dia na sala do tiro, outro na sala dos vídeos de performances estranhas, outro olhando pro piano de boca aberta pendurado no teto, outro na barriga da baleia...Qual seria a sala preferida dessa moça? Qual seria o sentimento dela em reação ao conteúdo destas salas? Além do bocejo a cada dez minutos, ela deveria ter tido tempo de formular, nem que por brincadeira para passar o tempo, alguma opinião sobre esses objetos incomuns que brotavam das paredes, do teto, do chão, que faziam uns ruídos estranhos, sorrateiros, traiçoeiros... e que deveriam ser considerados inquestionavelmente geniais.

O pior disso tudo é que estou com a missão de escrever uma análise critica sobre a exposição, como trabalho de um curso. Não sei o que dizer. Não sei nem avaliar se gostei ou não da experiência. Acho que gostei. Sei lá. Terei que espremer muito meu cérebro para escrever frases com sentido sobre o que vi. Buscar fundo na imaginação para elaborar algo como “sua obra nos toca com a constatação da incompletude do corpo humano, sua imperfeição, suas possibilidades e limites. Sua ausência, sua presença, seus mecanismos, blà, blà ,blà e ainda assim ser lido com risadas por um professor ultra intelectual, que logo notará meu falido esforço revelando o quão pouco eu entendo de arte, apesar de ser minha paixão. Invejo com todas as minhas forças quem discorre com fluência sobre qualquer aspecto da arte.

Se eu tivesse um dia livre na semana, trocaria com aquela moça. Ficaria sentadinha ali, na minha cadeira, no cantinho, buscando reflexões que tivessem ao menos um segundo de sinceridade. Até menos. Os milésimos de segundos daquele estampido em compreensão já seriam um grande passo em direção ao meu entendimento sobre a arte contemporânea.



domingo, 27 de junho de 2010

Eram cinco horas da manhã quando Anouar, marido de Malika, preparava o café da manhã para a família, como fazia desde que Anass nascera, o primogênito. Em seguida vieram Ahmed e Fouad. Três homens. Malika já estava satisfeita, mas Anouar gostaria de ter tantos filhos quanto uma mulher fosse fisicamente capaz de parir. Quando engravidara pela quarta vez, Malika tentou abortar por duas vezes. Falhou nas duas e Boutaina nascera. Da quinta gravidez, quase nem se deu conta. Ter filhos já havia virado um habito. Saloua veio ao mundo e não teria sido a ultima se o casamento não houvesse falido. Os cinco nasceram de parto normal, sem anestesia, como era natural que fosse. Costume.


Depois de passar um pano úmido na mesa, distribuiu sobre ela os utensílios do café: na cabeceira, uma bandeja de prata com um par de garrafas térmicas. Amarela para o leite integral, azul clara para o café preto. Torrões de açúcar num potinho de vidro, colheres e copos. Ao centro da mesa uma cesta de pão. Fatias de manteiga sem sal num pratinho, amlou em outro. Analisando a arrumação da mesa, percebeu que não havia colocado La Vache qui rit para a caçula Saloua, que não gostava do sabor insosso da manteiga sem sal e não suportava o peso do amlou no estômago vazio. ”Estranho, porque me esqueci ?”

Abriu a gaveta da geladeira, onde costumava ficar o queijo e viu que a caixa que havia trazido do bakkali na véspera não estava mais ali. Procurou pelos iogurtes que trouxera junto com o queijo e também não os encontrou. Isso só poderia significar duas coisas: ou Boutaina havia chegado em casa de madrugada com a fome assustadora que costumava ter quando desaparecia por mais de dois dias, ou Malika havia trancado a comida no armário para a empregada nova não comer.

Dirigiu-se ao móvel que costumava servir de esconderijo para itens mais luxuosos como azeite, iogurtes ou biscoitos. Coisas que, segundo Malika, serviam de tentação para o estomago esfomeado das empregadas novas, vindas das famílias pobres das montanhas ou do sul do país. Estava trancado à chave. Irritou-se, não concordava com as atitudes mesquinhas que sua mulher vinha desenvolvendo com o passar dos anos.

Subiu as escadas, apoiando-se no corrimão com a mão esquerda, a direita atrás do corpo. Anouar começou a demonstrar sintomas de Parkinson muito cedo, aos 45 anos. Andar com os braços cruzados atrás do corpo o ajudava a controlar os movimentos involuntários dos membros. Malika tinha uma raiva profunda de sua doença. Como se não bastasse tudo o que afirmava ter sofrido com ele, ainda tinha que agüentar um doente em casa. “Se é pra morrer tem que ser rápido” costumava dizer. “Essa historia de ficar rendendo, sofrendo, reclamando, é muito ruim. Só serve para atormentar a vida da família. O dia que eu tiver que morrer, quero que seja de um dia para o outro, bem rápido, de preferência sem ninguém ver.” Anouar sentia sua raiva e seu desprezo, mas procurava passar por cima. Ao menos publicamente. Seu espírito, desde que tomara consciência do que o futuro lhe reservava, havia sido tomado por um turbilhão de sentimentos avassaladores e perseguidores que não o deixavam em paz em nenhum momento do dia. Porém, utilizava o silêncio e o sorriso como escudo contra a pena alheia. Poucos percebiam o que seus breves olhares perdidos deixavam transparecer. Poucos se importavam em realmente perceber.

Em frente à porta do quarto de Malika, suspirou, como que buscando coragem ante uma situação desagradável. Contou alguns segundos e bateu. Nenhum som se pronunciara dentro do ambiente. Bateu mais uma vez, numa seqüência insistente e pouco paciente. Nenhuma resposta. Ultima tentativa. Silêncio total.

Já sabia. Não insistiria. Sua mulher mais uma vez, resolvera sumir. Provavelmente estaria em outra cama, em outro quarto, em outro país. Acompanhada.

Sabia que deveria ter se acostumado a essa altura dos acontecimentos, com a idéia de traição. Sabia que já nem deveria pensar na atitude de Malika como tal. Afinal, já não eram mais um casal. Eram uma mulher independente, bem sucedida e um doente cuja satisfação residia no pouco que ainda podia fazer pelo seu lar. Como o café da manhã. E que só faziam, por força do hábito e dos filhos, dividirem o mesmo teto.

Desceria as escadas, voltaria para a cozinha e tomaria seu café sozinho. Esperaria os filhos acordarem, seguiria a rotina da qual tanto necessitava e que ainda garantia à sua alma certa sanidade. Abriria a porta para a empregada nova. Compraria queijo e iogurte. Deixaria a moça se fartar como nunca. Anouar conhecia o significado e a dificuldade de uma privação. Havia sido privado da liberdade, da independência, da dignidade, do respeito. A diferença entre Anouar e Malika é que ele aceitava seu sofrimento. Malika jamais mereceria qualquer sofrimento. Era boa demais, era justa demais, era incrível demais. Dor era para os outros. Para as empregadas, para os perdedores. Para Anouar.

Para Malika, a melhor suíte do hotel mais caro de Málaga. E todos os caprichos que Farid pudesse solicitar ao serviço de quarto. Ela bancava.

sábado, 26 de junho de 2010

« Quero retocar as raízes e cortar um pouquinho aqui na nuca.”


Claude preparava seu equipamento. Amin estava rodando por perto, arrumando um vaso fora de lugar aqui, ajeitando outro ali. Malika o observava pelo espelho. Não podia deixar de imaginar que ele teria um caso com Claude. Isso era muito tolerado entre os ocidentais e havia muitos estrangeiros que vinham a Tanger para satisfazer desejos dessa ordem, corrompendo os homens e até mesmo mulheres mais vulneráveis, seja por serem estes já dotados de uma predisposição natural, seja por necessidade financeira. Malika se enojava de seus pensamentos, pois não conseguia deixar de imaginar o que fariam os dois quando se encontravam a sós. Quanto mais imaginava, mais se enojava e mais longe ia sua imaginação. Deveria de imediato distrair-se com outro assunto. Olhou desesperadamente ao redor, tentando encontrar algo que prendesse sua atenção. Como se os céus houvessem entendido seu desespero, a campanhia tocou.

Entrou uma senhora magra, alta, portando divinamente um legítimo tailleur Chanel numa cor que não se definia entre um verde azulado e um azul esverdeado. Seus cabelos eram de um branco intenso, lisos, na altura dos ombros, penteados cuidadosamente para dentro e, se ela não estivesse entrando num salão, dir-se-ia que ela havia acabado de sair de um. Era inglesa, sussurrou Claude, afastando-se para cumprimentá-la.

Uma vez cumpridas as devidas e efusivas formalidades, Claude voltou para a tintura dos cabelos de Malika. Entre uma pincelada e outra, o francês despejava em voz baixa todas as informações que havia coletado, nestes muitos anos na cidade, sobre a vida da inglesa. Por mais que seu tom de voz prometesse que estaria fazendo grandes revelações, Malika não estava interessada em saber que seu nome era Heather e que era a viúva milionária de um político inglês. Havia casado novamente,com um marroquino de origem francesa, e veio continuar a vida em Tanger, morando numa enorme mansão nas montanhas de Cap Spartel. Seria provavelmente vizinha do palacete de algum príncipe da Arábia Saudita, do qual se diria promover festas luxuosíssimas no verão, com muitas mulheres-e homens-como parte de um farto banquete.

Toda essa história que Claude sussurrava a um ritmo próximo da monotonia, embalava Malika cada vez mais fundo em seus próprios pensamentos. Lembrou-se do irmão caçula que estava em Londres e que havia quase um ano não se ouvia noticia. Chamava-se Youssef e havia deixado o Marrocos, não por opção, mas por haver sido dono de um bar na corniche no qual um assassinato havia sido cometido cerca de dez anos atrás. A versão familiar dizia que ele havia ficado desesperado com o incidente e ajudado a sumir com o corpo, transportando-o em seu carro até algum penhasco e despejando-o no Oceano Atlântico. Porém, o corpo fora achado e ele achou mais seguro sumir de vista.

Sentindo a respiração apertar, Malika resolveu fechar os olhos. Vasculhou em sua cabeça um pensamento agradável e o melhor que encontrara foi a decisão de reservar o final de semana para fugir. Iria para Málaga. Precisava mudar de ambiente. Precisava esquecer o cotidiano que vinha levando mecanicamente. Realmente, trabalhava demais e estava se sentindo cansada. Precisava de paz, de diversão, de uma companhia agradável que não encontraria em casa. Precisava de Farid.

Iria sumir por uns dias. Não diria para onde nem telefonaria. Nada com que sua família já não estivesse acostumada. Sorriu, pela primeira vez relaxando e aproveitando os cuidados que Claude lhe proporcionava. Olhou para Amin, com certa condescendência, resolvendo deixá-lo em paz em seus pensamentos.

De uma maneira ou de outra, todos buscavam a felicidade.

Todos tinham seus segredos.
Isso, Leticia...escreve as coisas depois fica querendo se matar de vergonha.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dez e quinze da manhã. Um pouco atrasada, mas nada grave considerando o senso de pontualidade marroquino. Balançou o pulso afastando as pulseiras de ouro, esticou o dedo e tocou a campainha.

Barulho de passos, silêncio. Alguém atrás da porta certamente ficava na ponta dos pés para acertar o buraco do olho mágico, colocado numa altura mal planejada.

Um senhor de aparência agradável abriu a porta e em seguida um sorriso.

Bonjour madame, tfâddal” disse com uma voz macia, incomum aos homens árabes, fazendo sinal para entrar.

Merci", disse Malika, entrando . « Vous êtes...?”

Amin, et vous, madame, chnou smik?” Perguntou seu nome na comum mistura tangerina de árabe com outras linguas, no caso, o francês.

« Madame Malika. Marquei com o Claude às dez horas, espero não ter atrasado muito...”

“Oh, non, pas du tout, ma keine hta mouchkil.” Sem problema. « Installez- vous ».

O lugar tinha ar de certo refinamento, diferente dos outros salões. Uma cristaleira anunciava o pequeno hall atapetado, exibindo pratarias e antiguidades, algumas facilmente identificáveis pela sua origem bérbere. Um quadro de Renoir distraía o cliente em frente à mesinha onde se efetuava o pagamento ao final do serviço.

Avançando o olhar para a sala, algumas cadeiras de ferro espalhavam-se no ambiente. Um sofá de zebra de forma sinuosa estava disposto ao meio da sala redonda. Pilhas de revistas francesas espalhadas em cestos se mostravam de fácil acesso às mãos das clientes. Espelho nas paredes, secadores, odor de laquê e chá de menta.

“Claude já vem, madame. Aceita um chá?”

“Sim, por favor.”

Malika dirigiu-se ao sofá de zebra e sentou-se bem ao meio. Abriu o broche que arrematava o foulard no pescoço, retirando-o e colocando-o em volta dos ombros. Seu cabelo era castanho, grosso, de um leve cacheado. As raízes grisalhas denunciavam que já havia passado dos cinqüenta anos, embora não parecesse, contrariamente a muitas mulheres de trinta que passariam facilmente por sexagenárias. Malika envaidecia-se muito disso e não economizava comentários que evidenciassem o fato. Tirava muito prazer do polido e provocado espanto que as pessoas demonstravam ao ouvirem-na dizer que acabava de ter sido confundida com a irmã do próprio filho.

Uma voz soava no ambiente. Sabia-se pelo ritmo que a voz falava em francês antes de poder-se identificar o que dizia. O som ficou mais claro e seu dono apontou na sala, vindo de uma porta aos fundos da segunda sala.

“A Fati sabe muito bem que não deve colocar mais de cinco torrões de açúcar ao preparar o chá! Porque ela insiste em pesar a mão? C’est n’est pás possible, isso não é um chá, é um xarope!!!” Dizia o senhor com afetada voz e gestos exagerados. Era Claude. Dono do salão, cabeleireiro muito conhecido e antigo na cidade. Era magros, alto, com cabelos totalmente brancos penteados para trás, cimentados com gel. Camisa florida, solta, por cima de uma calça de linho cru com ar bastante confortável.

Atrás dele voltava Amin, com uma bandeja prateada que trazia o chá para madame Malika.

Pardon, madame, acho que o chá está muito doce. Se não lhe agradar, posso pedir a Fati para fazer outro.”

“Chá de menta tem que ser bem doce. Foi assim que minha mãe me ensinou.” Disse Malika, sorridente, porém com a voz forte e a autoridade que lhe eram próprias.

Claude aproximou-se para apresentar-se:

Alors, Madame, sou Claude! Seja muito bem-vinda a este humilde salão. Não me lembro de tê-la visto aqui alguma vez...” disse com ar interrogativo. Malika preferiu omitir nesse primeiro contato que nunca havia se interessado pelo salão de Claude pois freqüentava o salão do belga Patrick e que continuaria a freqüentá-lo se sua nora não o houvesse descoberto e passado a retocar suas mechas loiro-dourado com ele. Não suportava sua nora. Ela vinha de Casablanca e possuía idéias muito modernas que poderiam constituir uma ma influencia para seu primogênito Abdellah. Ela sempre o tivera em suas mãos e esse domínio estava começando a encontrar resistência. Ele estaria dando mais ouvidos à mulher do que a ela e isso era um grande problema que deveria resolver. Porém, outra hora. Agora deveria fazer-se bela, ocupar-se de si mesma e tentar esquecer os sentimentos estranhos que a atormentavam.





Sem clima de copa...juro que tenho tentado me esforçar...o pouco sentido que eu via no futebol parece que virou nenhum...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Num gesto já incorporado ao automatismo do ritual matinal, os pés de Malika tateavam o tapete em busca de suas pantufas acolchoadas. Enfiou-os rapidamente e dirigiu-se ao banheiro de sua suíte.

Malika orgulhava-se de sua banheira, a única com hidromassagem da casa. Era seu quarto de rainha e deveria oferecer-lhe todo o conforto. Um cesto com uma coleção de buchas e ásperas luvas pretas de banho ficava pendurado num cantinho próximo à torneira dourada. Essas luvas pretas são bem tradicionais, compra-se em qualquer bakkali por cinco dirhams. São como uma lixa e servem para retirar o excesso de células mortas da pele, coisa que os marroquinos fazem com uma certa compulsão, numa busca obsessiva pela limpeza corporal. Eles acreditam que, quando se esfregam profundamente no banho, saem com a pele mais branca, motivo de satisfação para a maioria das mulheres, cuja beleza ideal reside na pele mais alva que se pode obter e no cabelo mais liso que se consegue alisar. Mesmo que isso signifique ficar mais de três dias sem lavar o cabelo, para não desmanchar a escova, criando assim uma contradição na supostamente impecável higiene estabelecida pela religião. Mas, como todo costume e tradição marroquinos, não permitem questionamentos. Devem ser simplesmente aprendidos de gerações passadas, repetidos no presente e ensinados às gerações futuras.

Malika conhecia muito bem todos esses costumes. Por isso havia reservado aquela manhã da quinta-feira para ir ao cabeleireiro. Deixou seu trabalho encaminhado no dia anterior, para dar-se ao luxo de passar toda a manhã no salão do francês Claude, ponto de encontro das mulheres estrangeiras que moram em Tanger e também de algumas tangerinas mais afortunadas, uma vez que o preço pela tesourada francesa beira o triplo da marroquina. E entende-se muito bem o porquê no resultado final.

Normalmente, Malika gostava muito desse dia da semana em que cumpria este ritual de beleza. Porém, hoje, a apreensão a incomodava da maneira mais desagradável, pois não conseguia identificar sua fonte. Sentia-se nervosa, com a respiração curta, como se algo estivesse para acontecer.

Jamais questionaria se esse sentimento seria uma conseqüência das atitudes que vinha tomando nos últimos dias. Ela jamais se arrependeria. Jamais se olharia no espelho e encontraria uma interrogação no olhar da figura refletida. A imagem que a encarava era sempre o rosto de uma mulher confiante, dona de si, orgulhosa do status que havia, com muita luta, conseguido alcançar numa sociedade onde ainda se conta nos dedos as mulheres empreendedoras, independentes financeiramente e que não precisam viver à sombra de uma figura masculina.

Infelizmente, na luta por esta posição, a vida havia-lhe roubado muito da sensibilidade e da doçura de uma mulher. A máscara da dureza fora sem duvida um instrumento poderoso. No entanto, ela o havia incorporado com tanta convicção, que passou a fazer parte de sua personalidade. Uma dureza indissociável da frieza, como nas pequeninas e insistentes pedras que lapidaram a cabeça de suas não tão longínquas antecessoras no decorrer dos séculos.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Não era usual que Malika questionasse suas atitudes. Era impecável demais para sequer cogitar uma auto-análise. Isso significaria a aceitação da possibilidade de erro. Coisa que não cometia. Num dia normal, afastaria imediatamente qualquer reflexão sobre suas ações, pois possuía a cega certeza da inquestionabilidade de seus atos. Porém, hoje, ela acordaria com uma inquietação atípica.

Ainda na cama, sem abrir os olhos, sentia-se inerte como se seus membros fossem toscos pedaços de chumbo. O dia longo se anunciava a uma parte já semi-desperta de seu espírito e ela recusava essa idéia. Planejava virar-se de lado em busca de uma posição que a permitisse dormir mais um pouco. No entanto, o esforço físico exigido para o menor movimento parecia sobrehumano. Sua consciência começava a dar sinais de vida, mas ainda sem comando sobre seu corpo.

O quarto se revelava timidamente na pouca luz que conseguia receber às seis horas de uma manhã de inverno. Era obviamente o maior quarto da casa, com uma enorme cama feita sob medida. O colchão fazia inveja ao mais king size dos colchões. Queen size, seria mais adequado e Malika receberia lisonjeada o trocadilho.

Apesar de ganhar o suficiente para comprar sofisticadíssimos jogos de cama do mais fino algodão egípcio, como proprietária de uma escola de ensino infantil tradicional e bem renomada, enrolava-se nos populares cobertores chineses cem por cento poliamida que imitavam uma pelúcia, ora com desenhos de pele de tigre, ora de zebra ou de onça.  Comprados por cem dirhams na Casabarata. Por maiores que fossem, pareciam minúsculos na desproporcionalidade da cama.

As paredes em azul claro insinuavam um flerte com o kitsch, uma constante na decoração marroquina. A claridade alaranjada proporcionada pelo aquecedor elétrico quebrava um pouco a frieza da cor e do tempo. Os abajures em plástico recobertos de um dourado barato confirmavam o estilo de aceitação duvidosa. Já as flores artificiais que contornavam o espelho, berravam desesperadamente para serem arrancadas dali. Constituíam uma agressão explícita ao gosto de qualquer carioca da zona sul do Rio. Mas ali era Tanger. E o sol tangerino começou a ensaiar sua traiçoeira dança de raios tímidos penetrando no cafona quarto azul, escolhendo o rosto de Malika como alvo de um pouco provável bom dia.

Sentindo a claridade, decidiu com um gemido preguiçoso e contrariado que deveria deixar de lado a moleza prazerosa. Numa fração de segundos, sobressaltou-se. Sua mente despertou violentamente, trazendo à tona a consciência de sua estranha agitação. E a sensação que a possuiu em seguida era de extremos e condenáveis medo e fragilidade, o que jamais, sob nenhuma tortura, admitiria algum dia em sua vida. Exceto, claro, se isso lhe conviesse, como uma estratégia calculada para atingir seus objetivos.

domingo, 20 de junho de 2010

Nossa...relendo agora...super influenciada por "A grande feira"... : )

sábado, 8 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Às vezes consigo gostar tanto de uma pessoa sem nem saber porquê, antes mesmo de conhecê-la direito. Estranhíssimo. Perigoso...
"You do not need to leave your room. Remain sitting at your table and listen. Do not even listen, simply wait, be quiet still and solitary. The world will freely offer itself to you to be unmasked, it has no choice, it will roll in ecstasy at your feet."

Franz Kafka

"Everything eternal happens in a spare room at 3 a.m."

Ron Dakron

domingo, 25 de abril de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Deixa a Glória Maria lá em Brunei por mais de cinco anos.
Quero ver se ela vai continuar achando tudo tão lindo e emocionante.
Casamento em Brunei dura 7 dias???? Tá maluco...
Nem que me paguem....
Quanto aos profundos "valores"... sei......

Os valores do petróleo isso sim...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Medo de sair de casa e não conseguir voltar. Está realmente um caos no Rio de Janeiro.

domingo, 4 de abril de 2010

4 de abril, Domingo de Páscoa. Estava na missa lendo o folheto, quando essa data acendeu uma luzinha na minha memória. "4 de abril...alguma coisa se comemora esse dia..." Fiquei uns minutos tentando lembrar de quem seria o aniversário, quando lembrei-me que nesse dia, há 14 anos atrás, estaria prestes a dar meu primeiro beijo. Lembrança doce...no lugar errado. Passei a missa inteira lembrando do primeiro beijo, do segundo, do terceiro... olhei um vitral com um retrato de um papa chamado Pio alguma coisa e vi o quanto ele me lembrava aquele menino..como era o nome mesmo...que eu tb dei um beijo alguma vez.
Do primeiro beijo, foi um pulo para lembrar da primeira vez...e por aí foi.

Impaciente, olhei para o lado, o confessionário. Logo imaginei-me enumerando meus pecados para o delicioso Padre Amaro de Gael Garcia Bernal...

Ainda bem que é Páscoa.
Preciso de muito chocolate.

domingo, 28 de março de 2010

Comprei finalmente o terceiro livro da série Millenium! Vamos ver se continua tão bom!
ahh...que delícia...passei a tarde viajando na História da Arte...estava com saudades.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Terça-feira resolvi fazer algo para relembrar a época "pré-França-Marrocos-8 anos-fora". Peguei um táxi e fui para um show sozinha. Showzinho de rock, Luen, legal... pra não esquecer que moro no Rio, que tenho que sair à noite, me divertir e blá blá, pra fazer parte, pra não contrariar...besteira.
Mas não é que me fez bem...estava lá muito feliz, sentada, sozinha, esperando começar, observando as pessoas, olhando para tudo, olhando para nada, pensando na vida enquanto não pensava nela, se é que dá pra entender. Universo paralelo, abstrato, pertencendo por estar lá, destoando por estar sozinha.Tendo como chopp uma dúzia de pedras de gelo num copo de Coca Zero. Passando despercebida e atraindo olhares curiosos, como o de um adolescente meio bêbado que entrou no meu espaço, me analisou por toda a infinidade de um minuto incômodo e disse: "Você parece uma estátua, há uma hora que quase nem pisca." Virou as costas e voltou para o bar, já apagando da memória minha tediosa presença.
Assisti o show, encontrei no final um casal de amigos, trocamos umas palavras, ficamos de nos rever, "mas sem papo de carioca, hein?"...Despedi do produtor, que me avisou do show e colocou meu nome na tal "listinha amiga", onde riscaram meu nome e me entregaram uma daquelas cartelinhas bem chatas que tem que ficar guardando e pensando nela o tempo todo para não a perder de vista, coisa que ando sabendo fazer como ninguém. Não com cartelinhas de bar, mas com toda informação prática ou objeto que apareça na minha mão e que em dois segundos desaparecem ou são esquecidos.
Minha percepção prática e concreta nunca esteve tão mal. Minha percepção sensorial e emocional nunca esteve tão eficiente por força dos acontecimentos. E também tão sensível.
Realmente, o momento agora é para atravessá-lo sozinha.
E um showzinho também ajuda.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Ganhei de presente no "livro-oculto" do trabalho um livro de Paul Bowles, "O céu que nos protege". Paul Bowles morou em Tanger por muitos anos, sempre ouvi falar dele e, ironicamente, somente agora que não estou mais em Tanger, tenho a oportunidade de ler um de seus livros. Li algumas passagens bem interessantes que postarei aqui. Ele me salvou da culpa de achar que eu era uma crítica sem perdão da sociedade em que vivi...sua percepção do comportamento tangerino é inteligente e afiada...

Uma foto sobrevivente ao grande terremoto.
Loja de tecido. Fechada.
Era uma vez Tanger.
Seu ponto final imposto numa mesa de café.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trocando o café de Tanger pela caipirinha do Rio...delicia!

sábado, 27 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

She has never made an impact on anyone's life, but some people have made an earthquake on her life.

Live with it.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Does she know the impact she has made on your life?"

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Comprei um dvd dos Teletubbies para minha filha e estàvamos assistindo, mas, - eh-oh!!! Como é que esse negocio fez tanto sucesso??? A "coisa" (coisa, pois nao hà praticamente palavras inteligiveis o suficiente para formar um diàlogo e tampouco um monologo) mais inteligente que se diz é:
-carneirinho triste!
-aahhhhh...carneirinho triste...
-ahhhhh...triste.........;
-ohhhhhhh.........
-uhhhhhhhh.................

Em dez minutos minha filha se entediou e pediu pra colocar "Dora" e o dvd foi posto de lado. Acho que vou trocar por "Lost in Translation".

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Like the tiger, move like the tiger, move like the tiger, think like the tiger!!!!"

TTT
eh-oh ...nobody out there

quarta-feira, 27 de maio de 2009

...teus làbios são labirintos
que atraem os meus instintos
(mais sacanas)
e teu olhar sempre distante
sempre me engana...


uhu...Gessinger



Nanquim






terça-feira, 26 de maio de 2009

Deutsch. Hoje fiquei completamente besta na aula de alemao. Besta de besta mesmo. Branco total de tudo, nao conseguia formar uma frase. Começava a falar e travava gaguejando sem conseguir continuar e acabava esquecendo do que estava começando a querer falar. Credo.

domingo, 24 de maio de 2009






Achakar...so pra começar a molhar os pés na agua...

sábado, 23 de maio de 2009

Revoltada, indignada, arrasada. Quanto mais conheço a cabeça das pessoas, menos eu entendo de tudo. O que pra uns é divino pra outros é maldito. Inversao total de valores. Como se pode manter a sanidade diante disso tudo?

Quero explodir as grades e voar



coitados coitados coitados
salve-se quem puder

sexta-feira, 22 de maio de 2009
















Tarde na praia.

O calor està chegando.



Na estrada para Asilah. Quando voltei ao Brasil pela primeira vez apos mudar-nos para o Marrocos, compramos muita cerâmica para levar de presente...sao lindas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

silence... silence is good
anyway, who cares
(pensando alto
sem pensar)
Gut...
Und ungut.
Leider.
et voilà!
c'est moi
comme ça...
Ich sage dir:
Au revoir!




ui que brega

sexta-feira, 1 de maio de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ontem passei na Casabarata, estao quebrando tudo para reformar. Quase nao reconheci o lugar, perdi o senso de direçao entre as ruelas. Se nao fosse pelo encontro com meu amigo karateka Abdelaziz, figurinha carimbada da Casabarata e que trabalha là, teria achado que entrei no lugar errado.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O vento de Tanger està cada vez mais assustador...dà até medo de sair nas ruas sob o risco de uma antena parabolica Negritoaterrisar na nossa cabeça... (diga-se de passagem que, se o pé que fixa a antena tem buraco para quatro parafusos, eles acham que dois jà resolvem)
A cidade vista de cima parece uma plantaçao de parabolicas, como colônias de cogumelos cobrindo os tetos e saindo por todos os buracos dos prédios.
No dia seguinte à uma ventania, metade da cidade està sem televisao e os "técnicos" faturam.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Falando em banheiro publico...


Aos turistas desavisados, nao exagerem no cuscus. Se tiverem uma dor de barriga, vocês provavelmente irao se deparar com isto:


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009





Foreigners living here should get Prozac for free.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

(ou eu acabo com ela ou ela acaba comigo)
Vamos falar sobre o que hà para fazer em Tanger.

A coisa mais emocionante a fazer em Tanger é pao em casa.
Sim, e nao deixa de ser uma terapia. Um dia você faz pao redondo, no outro pao quadrado, depois com gergelim, pao doce, pao salgado, pao pequeno, pao grande, médio...podemos até criar um calendàrio com um tipo de pao para cada dia do mês. Nao vale congelar, isso é muito ocidental, pao tem que ser fresco: quente. Ah, e nao asse em casa, leve no bandejao para assar na padaria do bairro.
Outra opçao para tornar o dia-a-dia menos entediante é depenar galinha. Você vai no souk e compra seu franguinho vivo. Um dia você escolhe um de penas brancas, no outro, de penas cinzas, vai variando o visual. Amarre as pernas para carregar ou ponha debaixo do braço, entre na guerra de cotoveladas para conseguir um lugar num taxi e leve para casa. Nisso você jà ocupou uma manha. Depois mata, depena, prepara, tempera, cozinha, almoça...ai limpa a cozinha da sujeirada e pronto, sua tarde que estava fadada ao desespero da monotonia passou cheia de adrenalina!
Assim a gente vai se ocupando, impedindo o cerebro de cair na siesta profunda e encontrando enfim a paz interior (ha quem chame de alienaçao, mas nao ligue para eles).
Eu ando tao "de mal" com Tanger que nem consigo escrever.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A falta do que fazer tangerina realmente é muito grave. Ultimamente so tenho utilizado a cabeça pra segurar os cabelos mesmo. Jà troquei de cores meia duzia de vezes nestes ultimos meses. Jà fiquei loira, castanha, fiz luzes, tirei as luzes, refiz as luzes, pus avermelhado...agora estou loura como uma banana. Amarelona.
Outro dia estava contemplando minha imagem no espelho do cabeleireiro e ela me dizia " Você aqui de novo???...vai fazer alguma coisa de util...ah, sim, desculpe, você està em Tanger. "
Espero que o excesso de H2O2 e a falta de atividade realmente nao me afetem os neurônios. Preciso buscar algo pra fazer. Urgente.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Passou o Natal. A missa foi tranquila, sem suspeita de rabanadas-bombas este ano. Pouca gente, acho que a maioria viajou. A porta da igreja continua fazendo "nheeeeeec", mas, este ano, a espanhola nao estava là pra reclamar. Também nao havia muita policia do lado de fora. Ano passado foi mais emocionante.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008







Como é triste chegar perto de final do ano e nao sentir o ambiente de Natal e Ano Novo... sair pela cidade e ver que ninguém nem sabe a festa que é, o sentimento que se tem nesta época... aqui estamos em plena metade do ano e nem se fala em comemoraçoes...

sábado, 13 de dezembro de 2008




Como eu adoro minha maquina de secar roupas...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Natal esta chegando ! Adoro Natal ! Mas, para minha infelicidade, em Tanger ele nao existe. Tenho que fazer um esforço sobrehumano para tentar sentir uma leve fagulha do espirito natalino. Sem luzes na cidade, sem arvores de Natal, sem lojas decoradas - até porque nem existem muitas lojas de verdade. Eu monto meu pinheiro em casa, decoro, preparamos uma ceia e vamos à missa. Pelo menos isso tem. Alias, falando em missa, tenho que contar como foi a do ano passado.

Noite de Natal, meu marido nos deixou de carro na Catedral Espanhola. Em frente, um carro grande do exército, outro da policia. Claro, aqui o pais é muçulmano. Nao que va acontecer alguma coisa, mas…melhor prevenir. Vai que algum terrorista resolve explodir a igreja em pleno 24 de dezembro.

Entramos, ja havia bastante gente, sentamos ao fundo. Todos muito elegantes, em pleno inverno, estrangeiros de Tanger. A cerimônia começa, acompanhamos atentos, felizes, esforçando-nos para sentirmos um clima de festa, de alegria interior. Os africanos da Africa negra que moram em Tanger, e normalmente fazem o coral da missa, reunidos, cantando mais empolgados que de costume.

Estavamos perto da porta, ou melhor, um enorme portao de madeira maciça cuja dobradiça urrava por um pouco de oleo a cada pessoa que entrava. « Puta mierda, que puerta ! » reclamou a espanhola sentada um banco atras.

Num desses « nheeeeeeecs » entrou um individuo evidentemente marroquino. Ele tinha um fone de comunicaçao em um dos ouvidos e carregava um pacote embrulhado em papel aluminio. Ele entrou, em passos acelerados, colocou o pacote misterioso cuidadosamente no ultimo banco que estava vazio. Saiu da igreja rapidamente.

Todos que estavamos no fundo da igreja inevitavelmente olhavamos curiosos para o dito pacote e nos entreolhavamos estudando as reaçoes. A senhora que estava logo em frente "catucou" com o cotovelo o moço vizinho apontando para o ultimo banco, esse moço catucou por sua vez a moça ao lado, que olhava também para tràs num misto de curiosidade e medo. De repente os sussurros foram ficando cada vez mais evidentes, o pessoal começava a se mexer nervosamente, inquietos, coça a cabeça, olha pro padre, olha pro pacote, olha para as outras pessoas. A turma perto da gente começou a ficar nervosa e eu jà estava me tremendo toda vendo o nervosismo coletivo. Tudo passava pela cabeça, bomba, terrorismo, atentado. Falei para minha mae que estava do meu lado para mudarmos de lugar, ela puxou meu pai, que, prestando atençao nas musicas, nem notou o que acontecia. Fomos para o primeiro banco do canto direito da igreja, como se fosse mudar alguma coisa. Se a igreja explodisse, nao ia poupar o canto direito da igreja. Mas eu nao queria ficar do lado da “bomba” , de qualquer maneira.
O padre e todos la na frente continuavam compenetrados na cerimônia, sem nem suspeitar a tensao que tomava conta da turma do fundao. Tentei acalmar-me e ficamos até o final. Nada aconteceu.

Terminada a missa, saimos, fomos cumprimentar-nos no patio da igreja -sob o olhar atento da policia- e desejar boas festas. Ninguém comentou nada sobre nada, todos se preparavam para voltar para suas casas. “Muy linda la missa, no?” escutavamos comentarem.

Até que vejo descer a turma dos africanos, todos muito contentes. « Eles vao fazer uma ceia comunitaria » nos explicou o frei brasileiro. De repente, vejo o tal pacote suspeito sendo carregado com todo cuidado na mao de um deles. E o pacote vem vindo na nossa direçao. Até que, passando perto da gente, a moça que o carrega pàra, levanta cuidadosamente o papel aluminio e verifica o seu conteudo. Parece satisfeita. Respira fundo, como para sentir o cheiro. Dà um leve sorriso. Nao pude evitar a curiosidade e aproximei-me para tentar identificar do que se tratava. Quando estava bem perto, chegou um conhecido da moça e perguntou para ela : « Eles trouxeram as rabanadas ??? » « Sim, aqui estao !!! »

Rabanadas ! Fiquei tremendo metade da missa de Natal, sem conseguir prestar atençao em nada por causa de um prato de rabanadas !!! Jà estava achando que iam explodir a igreja, que sairia nos noticiarios internacionais do dia seguinte.

Isso é passar Natal em Tanger…