Estava pondo a mesa para o jantar ontem quando me dei conta que hà uns vinte minutos ouvia uma conversa alterada de duas mulheres na rua. Eu moro no primeiro andar e elas deviam estar bem proximas à janela da sala. Mas, claro, falando em arabe. Continuei a distribuir os copos e talheres, trouxe da cozinha a refeiçao e sentamo-nos para a janta. Servindo-me de salada, perguntei ao meu marido, que é marroquino, o que tanto falavam estas duas mulheres. « Uma està contando para a outra que alguém està fazendo bruxaria para seu marido », respondeu ele rindo pois, involuntariamente, escutava toda a conversa enquanto trabalhava no computador e divertia-se igualmente com a seriedade da mulher que relatava sua suspeita à amiga.
« Bruxarias ! » Lembrei-me entao o quanto o pessoal aqui leva à sério esse universo oculto que, apesar de estar escrito em algum lugar qua eles nao devam se meter com estes rituais, eles insistem em servir-se destas forças-ou de sua influência psicologica- sobre os outros. Lembrei-me também que, quando morava na casa da familia marroquina, era rotina encontrar objetos suspeitos pela casa : chumaços de cabelo embrulhados em papeizinhos com desenhos indecifràveis, roupa intima jà bem usada dentro de um saquinho com uns dizeres estranhos.
Nao so aqui, mas também no Brasil, hà muita gente que gosta disso. Quantas vezes descia a minha rua e encontrava no chao perto da àrvore um belo prato de frango depenado com farofa e umas velas. Fiquei imaginado o que leva estas pessoas a fazerem isso e o que eu faria no lugar delas. Se eu fosse uma simpatizante da bruxaria, teria eu depenado quantos frangos? Para quem? Inevitavelmente alguns nomes passam pela minha cabeça, e espetaria com prazer um galinàceo se tivesse certeza de que isso funcionaria...mas nao sou nenhuma Harry Potter e prefiro comer o meu franguinho assado com farofa no almoço de domingo do que entregà-lo aos espiritos que, ao meu entender, nao precisam fazer funcionar um sistema digestivo. Ou, se a raiva fosse grande, mais pratico era servir o tal frango num molhinho apetitoso de cerveja com acido cianidrico para o querido convidado. Mas as consequëncias seriam pesadas, melhor esquecer.
Ah sim, as cuecas! Teria eu infiltrado-me na gaveta de roupa intima daquele idiota que ficou dando em cima da minha amiga quando eu tinha dezessete anos sabendo que eu gostava dele? Ele nao merece tanto trabalho. Ou ainda, serà que eu teria conseguido encontrar um espelho que nunca antes houvera refletido o que fosse, ou, nas palavras do “pai-de-santo”, um “espelho virgem”? Sim, exatamente, um espelho virgem, foi o que uma amiga recebeu na lista de materiais para um serviço que traria seu marido de volta. Se é que vocês podem imaginar que algo assim possa existir. Talvez tenha sido a maneira do preto velho lhe dizer “Vosmecê tà ferrada mizifia, num dianta naum...eu também teria trocado vosmecê pela lorona...”
Enfim, hà o fator psicologico que é no que eu mais acredito. Hà pessoas que, quando algo vai errado em algum momento da vida, poem na cabeça que foi vitima de uma macumba. E a pessoa acredita tanto nisso que tudo começa a dar ainda mais errado! Ou, pensando no lado da pessoa que encomenda o dito serviço, està tao convencida de que ele vai funcionar que jà se sente vingada e toca a vida em frente. Se sabe por uma fofoca que sua vitima, um belo dia, està passando mal, esboça um sorriso discreto pensando na eficiência da bruxaria. Nao interessa se o fulano ou fulana havia no dia anterior comido um Big Mac numa festinha de criança acompanhada de uma série de outras Mac-porcarias... “claro que foi minha macumba!”, pensa.
Sinceramente, se toda essas crenças têm fundamento ou nao, hà coisas muito mais importantes na vida do que sair fazendo vodu por ai! Porque nao fazem vodu para os politicos? Porque nao depenam um frango pela paz entre as religioes? Porque nao vao procurar um “espelho virgem” para o aumento do salàrio minimo? Porque simplemesmente nao funcionaria. Seria necessario entao acabar com a populaçao de pintos, galinhas e galos da face da Terra para conseguir mudar algo! Além do mais, esses problemas maiores é a ultima coisa que passa na cabeça dessas pessoas...nao cabe.
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Há 6 anos

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